> Surrealismo
Nas duas primeiras décadas do séc. XX, os estudos psicanalíticos de Freud e as incertezas políticas criaram um clima favorável para o desenvolvimento de uma arte que criticava a cultura européia e a frágil condição humana diante de um mundo cada vez mais complexo. Surgem então movimentos estéticos que, representando a realidade de maneira fantasiosa, procuram questionar o sentido da civilização contemporânea, como é o caso do Surrealismo, tendência que produz uma arte inquietante.
O Surrealismo foi criado na França, em 1924. O poeta e escritor André Breton liderou a criação desse movimento e escreveu o seu primeiro manifesto, em que associa a criação artística ao automatismo psíquico puro. Dessa associação resulta que as obras criadas nada devem à razão, à moral ou à própria preocupação estética. Portanto, para os surrealistas, a obra de arte não é o resultado de manifestações racionais e lógicas do consciente. Ao contrário, são as manifestações absurdas e ilógicas, como as imagens dos sonhos e das alucinações, que produzem as criações artísticas mais interessantes.

As vezes as obras surrealistas representam alguns aspectos da realidade com excesso de realismo. Entretanto, estes aparecem, em geral, associados a elementos que na realidade são dissociados, o que resulta em conjuntos irreais. Dos pintores surrealistas, Salvador DALÍ é sem dúvida o mais conhecido, principalemnte por causa da obra A Persistência da Memória (1931), muitas vezes reproduzidas em livros. Esse artista procurou desenvolver em sua pintura a atitude de quem recusa a lógica que rege a vida comum das pessoas. Segundo ele, ao pintar, é preciso desacreditar da realidade como a percebemos. São ideias assim que podemos encontrar como fundamento de obras como Casal com as cabeças cheias de nuvem (1934), Natureza-morta animada, Dalí, aos seis anos, quando acreditava que era uma garotinha, levantando a pele da água para ver um cão dormir na sombra do mar (1950), e Descoberta da América por Colombo (1959).
Nessa obras podemos encontrar muitas das ideias do Surrealismo comentadas até aqui: as representações absurdas e ilógicas, os conjuntos irreais. Mas há um outro aspecto que é preciso observar, pois era considerado precioso para o artista: a arte do desenho. Segundo ele próprio aconselhava, "comece desenhando e pintando como os antigos mestres; depois faça como quiser, será sempre respeitado". De fato, olhando atentamente, é improssível não reconhecer o talento de Dalí para desenhar e pintar.
Dalí também produziu várias peças escultóricas, que carregavam a mesma intensidade criativa e surreal de suas pinturas, muitos deles funcionais. Dois dos mais populares objetos que produziu foram os Telefone-Lagosta (1936) e Sofá-Lábios de Mae West (1937). Também foi responsável pela criação de um interessante conjunto de jóias, 39 no total. A mais famosa jóia criada por Dalí foi "The Royal Heart": trabalhada em ouro, incrustada com 46 rubis, 42 diamantes e 4 esmeraldas, de forma a se assemelhar a um coração.
A pintura da primeira metade do séc. XX, que foi desenvolvida por artistas que negavam a necessidade de a arte representar a realidade, apresentou tendências por vezes, mais figurativa, e por vezes mais abstratas. Entre as obras de tendência figurativa estão as obras de Marc Chagall, como na obra Passeio (1917-18).

Já entre as pinturas de tendência mais abstrata estão as obras de Joan Miró, como a Estrela da Manhã (1940). Nessa obra, exceto pela representação simplificada de uma estrela, não existem elementos que podem ser identificados e que de alguma forma justifiquem o título da obra. O autor trabalha em suas obras com linhas e cores e limita-se a apresentar ao observador uma composição bastante livre, reduzindo a formas muito simples, muitas vezes, as representações das cenas, como em O Jardim.
Giorgio de Chirico desperta a atenção dos apreciddores da arte pelas construções que realiza em suas pinturas e esculturas, que provocam a imaginação. O tema de muitas de suas obras são paisagens urbanas, mas as cidades de sés quadros são desertas, melancólicas e iluminadas por uma luz estranha, como podemos ver em As Musas Inquietantes (1924) e Praça Itália com estátua eqüestre (1936). Ele também foi um importante escultor. Ele reproduziu na escultura figuras que imaginou e representou na pintura, como musas, trovadores e arqueólogos.
René Magritte praticava o surrealismo realista, ou "realismo mágico". Começou imitando a vanguarda, mas precisava realmente de uma linguagem mais poética e viu-se influenciado pela pintura metafísica de Giorgio de Chirico. Magritte tinha espírito travesso, e, em A queda, seus bizarros homens de chapéu-coco despencam do céu absolutamente serenos, expressando algo da vida como conhecemos. Sua arte, pintada com tal nitidez que parece muitíssimo realista, caracteriza o amor surrealista aos paradoxos visuais: embora as coisas possam dar a impressão de serem normais, existem anomalias por toda a parte. Exemplo também é sua conhecida obra Gonconda (1953) e Os amantes (1928).
Pintor de imagens insólitas, às quais deu tratamento rigorosamente realista, utilizou-se de processos ilusionistas, sempre à procura do contraste entre o tratamento realista dos objetos e a atmosfera irreal dos conjuntos. Suas obras são metáforas que se apresentam como representações realistas, através da justaposição de objetos comuns, e símbolos recorrentes em sua obra, tais como o torso feminino, o chapéu coco, a rocha, a maça, a janela, entre outros mais, porém de um modo impossível de ser encontrado na vida real, como em A janela (1948) e O filho do homem (1964).